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segunda-feira, 11 de julho de 2022

Pandemia reduz expectativa de vida global, que crescia havia cerca de cinco décadas

 

Relatório da ONU sugere pela primeira vez que crescimento populacional entrará em decréscimo antes do fim do século

Por: Mayara PaixãoThiago AmâncioTatiana Harada

pandemia de coronavírus causou uma alteração que havia quase cinco décadas não era observada: a expectativa média de vida no mundo caiu. Enquanto em 2019 a expectativa era de 72,8 anos, no ano passado foi de 71, mostra relatório da ONU lançado nesta segunda (11).

A cifra crescia de maneira ininterrupta desde 1972, até ser confrontada pelo excesso de mortes durante a crise sanitária. A boa notícia é que os países devem recuperar as tendências de longevidade entre este ano e 2025, a depender, entre outras coisas, das cifras de cobertura vacinal.

Centenas praticam ioga em frente ao Portal da Índia, país que em breve se tornará o mais populoso do mundo, em Mumbai - Francis Mascarenhas - 21.jun.22/Reuters

"Evidências de crises passadas que provocaram muitas mortes sugerem que, em geral, elas têm apenas um impacto limitado e de curto prazo nos padrões de mortalidade", diz à Folha, por email, John Wilmoth, chefe da divisão de população das Nações Unidas.

Trata-se da primeira edição do relatório World Population Prospects divulgada desde 2019 e, portanto, traz estimativas inéditas que levam em conta o coronavírus e outros fatores, como a Guerra da Ucrânia.

O material mostra que, pela primeira vez desde 1950, quando o monitoramento passou a ser feito, a média anual de crescimento da população ficou abaixo de 1% —foi de 0,9 em 2020 e, em 2022, a projeção é de que fique em 0,84%. Outro fator inédito foi o retrato de que o decrescimento populacional —quando a taxa fica abaixo de zero— deve ser atingido ainda no século 21, na década de 2080.

O demógrafo José Eustáquio Alves, que analisou os dados, diz que esse fator não é necessariamente ruim. "A população superou a capacidade de carga da terra e estamos entrando em um processo de crise ambiental muito séria; a crise climática é apenas uma parte."

As projeções sugerem que a população mundial, que no final de 2022 deve bater à porta dos 8 bilhões, chegará a 9,7 bilhões em 2050. Na década de 2080, o pico de 10,4 bilhões será atingido e permanecerá até 2100 —cifra mais tímida em relação à versão anterior do documento, que projetou 11 bilhões para o final do século.​

Mais da metade do aumento projetado para o meio do século estará concentrada em oito países: República Democrática do Congo, Egito, Etiópia, Nigéria, Tanzânia, Paquistão, Índia e Filipinas. A Índia, aliás, deverá ultrapassar a China como país mais populoso do mundo em 2023 —quatro anos antes do previsto anteriormente.

John Wilmoth diz que essas nações terão uma oportunidade-chave de impulsionar suas economias quando a taxa de fecundidade cair e a base da pirâmide etária formada por jovens em idade de trabalho for alargada, fenômeno chamado de bônus demográfico. "Mas, para tirar o máximo proveito dessa mudança temporária, será preciso que a criação de oportunidades se torne prioridade política."

Enquanto o crescimento populacional, mesmo que em menor ritmo, será assegurado nos países de baixa e média renda pelo excesso de nascimentos sobre mortes, nas nações de alta renda a tendência é de que a migração internacional se torne o único motor.

O material também reforça a tendência de alargamento da faixa da população idosa. A parcela daqueles com 65 anos ou mais deverá aumentar de 10% neste ano para 16% em 2050, ano em que essa faixa etária será duas vezes superior ao número de crianças com menos de 5 anos e aproximadamente o mesmo que o número das com menos de 12.

O cenário, em partes, será impulsionado pela tendência contínua de queda nos índices de fecundidade, que mostram o número de filhos tido por cada mulher. Hoje a média mundial é de 2,3. Espera-se que, em 2050, ela caia para 2,2 e, em 2100, chegue a 1,8.

O assunto, porém, vira desafio quando o recorte é a gravidez na adolescência, tema sobre o qual o material faz um alerta. Na África Subsaariana, por exemplo, 101 nascimentos foram registrados no ano passado a cada mil gestantes de 15 a 19 anos. Na América Latina e no Caribe, onde o panorama também preocupa, a relação foi de 53 a cada mil.

O documento reflete ainda tendências da guerra no Leste Europeu. O conflito reduzirá a população da Ucrânia em cerca de 7 milhões até o ano que vem, em grande parte devido à emigração forçada. De 43,5 milhões em julho de 2021, o número de habitantes passará a 36,7 no mesmo período de 2023.

Desde o colapso da União Soviética, a população do país já vinha em queda —o ápice foi em 1992, com 51,8 milhões de habitantes. Agora, projeta-se que o país chegará ao final deste século com 20,4 milhões de pessoas, quase metade do que possuía em 1950.

Na esteira da pandemia, a expectativa de vida no país também caiu de 74,5 anos em 2019 para 71,6 em 2021, uma queda maior que a da média global. As mortes relacionadas à guerra, indica a ONU, devem fazer com que a expectativa despenque para 68,6 anos ao final deste ano.​

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