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sexta-feira, 4 de novembro de 2022

Itamaraty promove mistura do Brasil com Egito com show do Olodum no Cairo

 

Grupo baiano, que desde 1987 canta sobre o faraó Tutancâmon e a cultura egípcia, apresenta-se no país pela 1ª vez

SÃO PAULO

Trinta e cinco anos após lançar o hit "Faraó - Divindade do Egito", o Olodum se apresenta pela primeira vez no país africano, com o apoio do Itamaraty, que busca exaltar a cultura negra brasileira no exterior.

O primeiro show, no Cairo Jazz Festival, acontece nesta sexta (4), quando se celebram os cem anos da descoberta da tumba de Tutancâmon. No sábado, o grupo se apresenta na Opera House de Alexandria.

Para João Jorge Santos Rodrigues, presidente do Olodum, a banda ajuda a destacar a importância de personagens negros do Egito antigo, como os faraós Aquenatón e Tutancâmon, da 18ª dinastia.

"Cantamos isso desde 1987. Esses faraós são de um período em que a presença africana negra era fundamental no Egito. Queremos, ainda, projetar a música brasileira baiana do Olodum num ambiente que consagrou o berço da civilização", afirma Rodrigues. Quatorze músicos participam da viagem.

Cinco integrantes do Olodum estão de braços erguidos, cada um em um camelo, no Egito
Parte dos integrantes do grupo Olodum em camelos nos arredores do Cairo, Egito, durante visita na quinta-feira (3) - Arquivo pessoal

Segundo o embaixador do Brasil no Egito, Antonio Patriota, que foi ministro das Relações Exteriores durante o primeiro mandato de Dilma Rousseff (PT), levar a cultura afrobrasileira para o Cairo e Alexandria traz benefícios comerciais, turísticos e diplomáticos ao país. O intercâmbio cultural, para ele, é uma forma de patrocinar o Brasil em uma das nações mais importantes do mundo árabe.

"O Egito é um mercado importante para os nossos produtos agrícolas como milho e açúcar. Importarmos fertilizantes egípcios. O país também é uma potência turística", afirma o diplomata.

Ele cita como exemplo a atuação do Itamaraty junto ao governo egípcio para que haja um voo direto entre o Cairo e São Paulo da companhia estatal EgyptAir. "Facilitará não só contatos econômicos, comerciais, acadêmicos, institucionais e de investimentos, mas também excursões. Gostaríamos de ver o turismo egípcio aumentar no Brasil, e o Olodum pode impulsionar isso ao despertar o interesse pelo Brasil."

O grupo, que nasceu em 1979 na periferia de Salvador, no bairro Maciel-Pelourinho, já tocou com artistas como Michael Jackson, Pet Shop Boys e Jimmy Cliff, além de arrastar multidões ao Carnaval de Salvador.

"Um dos grandes sucessos do grupo é 'Faraó', música que fala do empoderamento dos negros. Como o Brasil é o maior país afrodescendente fora da África, é natural que tenhamos grande interesse por essa cultura. O Brasil não existiria como é hoje sem uma forte participação do elemento africano", diz Patriota.

Além das duas apresentações, o Olodum levará ao Egito oficinas sociais que realizam em Salvador e em Florianópolis e que já fizeram em países como Argentina, Canadá e Estados Unidos.

Serão duas aulas sobre cultura afrobrasileira e percussão no Cairo e outra para 25 crianças num abrigo em Alexandria, com apoio do Ministério da Cultura egípcio. O público-alvo são músicos e jovens em situação de vulnerabilidade, explica Rafaela Seixas, primeira-secretária da embaixada do Brasil no Cairo.

"O Olodum surgiu como um projeto social. Querem tirar pessoas negras da marginalidade e mostrar a cultura negra ao mundo. Talvez coloquem nessas crianças e adolescentes uma fagulha para eles se interessarem por música e, quem sabe, profissionalizarem-se no futuro", afirma a diplomata, negra, soteropolitana e chefe dos setores de promoção cultural e comercial da representação diplomática.

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