Partidos declararam uso de R$ 11,2 milhões em verbas com refeições entre 2017 e 2020
Os partidos políticos registraram gastos de R$ 11,2 milhões com alimentação no quadriênio 2017-2020, uma verba que serviu para custear idas a restaurantes de luxo, fornecimento de R$ 31 mil em hambúrguer e refrigerante para uma convenção partidária e também aquisições bem mais modestas, como três pãezinhos franceses e dois sachês de chá contra a gripe.
Todo ano, as 32 legendas do país recebem cerca de R$ 1 bilhão de verba pública do Fundo Partidário, dinheiro que é usado para gastos que vão desde o pão quentinho do dia à compra de aeronaves. Os dados dos gastos das legendas no quadriênio 2017-2020 foram colhidos e organizados pelo Movimento Transparência Partidária.
O Republicanos de Sergipe, por exemplo, usou R$ 31 mil para comprar hambúrguer e refrigerante para uma convenção do partido em Sergipe, em 2018.
Naquele ano, o PRB —nome do partido na época— teve o candidato a vice na chapa ao governo de Eduardo Amorim (PSDB), que terminou a eleição com 20,5% dos votos válidos e quase foi para o segundo turno.
"A gente convidou muita gente para vir e foi uma forma que a gente arrumou de facilitar a logística, o evento durava o dia todo", disse o presidente do partido no estado, Jony Marcos. Ele afirmou que a prática não é normal no estado, mas que nesse evento a sigla entendeu que o acerto com a hamburgueria facilitaria os trabalhos.
Em outro caso, o DEM gastou de uma única vez R$ 22,1 mil na churrascaria Fogo de Chão, em Brasília, para o lançamento da pré-candidatura de Rodrigo Maia à presidência da República em 2018 —o deputado nunca mostrou competitividade para o Planalto nas pesquisas eleitorais. Na época, Maia era presidente da Câmara e estava no DEM.
O seu sonho presidencial durou de 8 de março até 26 de julho, quando ele afirmou deixar "momentaneamente a pretensão presidencial" para apoiar Geraldo Alckmin, então no PSDB. O ex-governador de São Paulo terminou em quarto na disputa.
A assessoria de imprensa do partido, que hoje se chama União Brasil, não se manifestou.
A Fogo de Chão é uma das churrascarias mais caras de Brasília.
A churrascaria também foi o local escolhido pelo PL, hoje o partido do presidente Jair Bolsonaro, para oferecer um almoço aos participantes da convenção nacional de 2018.
A conta total foi de R$ 20,3 mil. No mesmo ano, o partido reservou R$ 29,8 mil para levar a bancada do partido ao Le Jardin du Golf, restaurante fino de Brasília. Do total, R$ 15 mil foram gastos com comida e o restante para reservar o espaço.
"Todos os gastos são públicos e estão disponíveis para consulta no site da Justiça Eleitoral", respondeu o PL.
Apesar dos valores irrisórios, o Republicanos nacional enviou para a Justiça Eleitoral, em sua prestação de contas, notas fiscais e até mesmo fotos de alimentos, entre eles uma tapioca de R$ 8, três pães franceses de R$ 1,92 e dois sachês de chá contra a gripe (R$ 2,98).
Na legenda das fotos, consta a informação de que os pães se destinaram a uma reunião administrativa na sede da Fundação Republicana Brasileira. O chá foi para a presidência da Fundação.
A prática destoa da quase totalidade das prestações de contas, que agrupam esses pequenos gastos, além de não enviarem fotos dos produtos adquiridos.
Especialistas apontaram a possibilidade de o partido ter pretendido fazer um protesto contra a exigência de comprovação detalhada de despesas pela Justiça Eleitoral, que por vezes requisita o envio de fotos de eventos realizados. O Republicanos não se manifestou.
A área técnica do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) afirmou que os partidos políticos devem prestar contas de toda a sua movimentação financeira, incluindo as de baixo valor, e que os regulamentos do tribunal permitem o uso de conferência da prestação de contas por amostragem, o que possibilita filtros por relevância.
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